Aida Rodrigues saiu da Meia Via com 21 anos e agora vive em Madrid, Espanha. Deixa aqui no Notícias da Meia Via o seu testemunho e a sua mensagem a todos os Meiavienses
"Em primeiro lugar, espero ter direito a ser chamada Meiaviense, apesar de realmente, ter nascido em Torres Novas. Digo isto porque, nunca tive a certeza, se nós somos de onde nascemos, ou de onde nos somos criamos!
De qualquer maneira, como a Meia Via é uma freguesia de Torres Novas, tanto da nascer como parecer. Espero.
Quando fiz 21 anos, saí da terra, para procurar horizontes, mais altos e mais espaçosos!
Eu, não sei dizer porquê, desde pequena fui muito curiosa. Queria aprender e saber o que era, tudo o que aparecia a minha frente.
Tive a sorte de ter aprendido a ler aos 5 anos, graças a dois grandes Meiavienses: o meu pai, João Rodrigues da Silva, mais conhecido por, João Balhão, que nos deixou, a já demasiado tempo.
E depois, da menina Guilhermina, que me ensinou, quando o meu pai já não podia, antes de entra a nossa velha Escola Primaria.
Por isso, eu que lia as cartas dos nossos imigrantes, de França, ás queridas vizinhas, idosas e analfabetas, muito cedo. Alugava montes de livros, no maravilhoso, para mim, autocarro/biblioteca ambulante, da Fundação Gulbenkian! Aí eu aprendi que o mundo era grande. Enorme! E que a Meia Via, era só um baguinho de arroz, num saco que formava este continente.
Assim aprendi mais história, que qualquer outra disciplina. E, comecei a sonhar...
A vida, deu me a oportunidade, de sair daí, e ver um pouco de mundo.
Conhecia Lisboa, cidade em que tinha vivido uns anos de pequena, e que me fascinava. E que ainda hoje, me fascina!
Mas eu sabia que havia outras cidades, aldeias, gentes e mentalidades que seria interessante conhecer.
E quando a vida decidiu eu voei e acabei pousando numa cidade enorme, bonita e desconhecida, para mim, Madrid! Nunca tinha visto tal grandeza arquitectónica e pictórica, junta.
Avenidas tão grandes gentes, como nós, falando um idioma, que eu conhecia, um pouco, e que, ao fim do ano e ate hoje, falo como nativa.
Mas eu nunca esqueci o nosso querido idioma, salvo algum erro, por falta de costume e do qual peço desculpa.
Gostei desde pais desta gente e da sua comida, em geral muito parecida à nossa. E em particular, e falando de gastronomia uns pratos que em seguida, se fizeram meus favoritos como "la tortilla de patata", "el gazpacho" "el jamón" e outros.
Abri, mais a minha mente, aprendi e conheci coisas e gentes novas, diferentes, mas parecidas. Aprendi, a viver, sem julgar a vida dos outros.
A ajudar a quem me necessite, mesmo que seja só com um abraço. E a nunca julgar as pessoas nem por como vestem, como falam, como trabalham, ou não. E muito menos, pelo dinheiro e outros bens materiais.
Aprendi, ao mesmo tempo, que me fazia a mim mesma, que por muito que sejamos ou cheguemos a ser na sociedade, nunca devemos esquecer, quem somos e donde viemos.
Eu sou filha da Deolinda Saca, empregada doméstica, reformada, e do João Balhão, motorista.
E com o maior orgulho do mundo.
Sobretudo aprendi, que nós, sejamos donde sejamos, realmente, somos de e para o mundo.
Mas, não por isso, deixava de me lembrar dos pratos singelos da nossa terra.
Um caldo verde, um cozido, umas couves com feijão, pasteis de bacalhau, mil formas mais de cozinha-lo, e um especialíssimo doce Molotof. Ah... e do saboroso frango assado na brasa!
Nunca, jamais, posso conter uma lágrima, ouvindo um fado!
E, quando lembro a minha infância feliz, na rua da Guadiana, tanto na minha casa, como na dos meus avós, e a conto às minhas amizades de Madrid, eles ficam admirados de coisas que me passaram, e das quais nunca me vou esquecer.
Também fui infeliz... Claro que sim. A maior parte das vezes por ser diferente e incompreendida.
Assim me sentia. Quando eu simplesmente, era a mesma que ainda sou hoje.
Só que sem experiência da vida, visto que era nova. Como toda a gente, ora essa!!!
Mas eu devia dar mais nas vistas.
Seria porque era loira alta e risonha?
Não sei. Mas chorei muitas lágrimas, que também contribuíram, para querer sair daí.
Mas... sempre voltei, cada mês de Agosto, a Meia Via, à família e alguns amigos.
Excepto alguns anos em que estava doente, nesse verão, nunca deixei de vir.
E voltarei, sempre que possa.
E graças as novas tecnologias, posso escrever e falar sempre que o desejo, com todos, e até falar pelo Skype, com a Deolinda, que lá fala e lá me vê e reconhece a casa, mas que não acaba bem de entender, como tal maravilha, é possível!
Já esqueci algumas caras,alguns nomes, mas, em geral, lembro-me bem de todas as pessoas, que, de uma maneira ou outra, fizeram parte da minha vida.
Lembro das nossas lindas e antigas Festas Do Espírito Santo e fico com pena de não se ter seguido essa tradição. Ainda bem que pouco a pouco, parece que se vai fazendo, outra vez.
Bem hajam aos que aceitam ser juízes no próximo ano.

Também admiro que se tenha renovado a tradição de teatro, na Tuna.
Que se use a Sociedade para eventos variados e haja um belo coro na nossa igreja e uma banda, de gente nova e muito completa.
A ver, se vão mudando algumas coisa, já que ultimamente havia uma certa juventude... mal encaminhada!
Mas, que se vá entendendo, que a cultura, é a mãe do progresso!
Bravo, pela Meia Via!
Estou orgulhosa!
Bem hajam, queridos conterrâneos!
Saudações
Aida Rodrigues"
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Fábio Carvalho
www.noticiasdameiavia.blogspot.pt
"Só seremos universais se conhecermos e amarmos nossa aldeia"
Tostoi


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